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15/11/22 às 12h12 - Atualizado em 15/11/22 às 18h46

Entre o lírico e o político no FBCB

Texto: Alexandre Freire, Lúcio Flávio e Luís Andrade. Fotos: Hugo Lira. Edição: Déborah Gouthier/Ascom Secec

 

Público em fila na entrada do Cine Brasília

A volta ao presencial na abertura do Festival de Brasília de 2022. Fotos: Hugo Lira

 

A segunda-feira, 14 de novembro de 2022, entra para a história como o marco da volta do público à casa do cinema nacional no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro (FBCB). Depois de dois anos em edições virtuais em razão da pandemia de Covid-19, os apaixonados pela sétima arte puderam se encontrar e se reencontrar na abertura do evento, promovido pela Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Distrito Federal (Secec) em parceria com a organização da sociedade civil Amigos do Futuro.

 

As 606 poltronas do Cine Brasília foram tomadas pelo público e as luzes dos holofotes bailando novamente iluminaram os rostos da plateia em meio ao burburinho de vozes e som ambiente. Impressionou também a cenografia do espaço cultural, assinada pelo diretor de arte e cenógrafo Andrey Hermuche, com foco em proporcionar uma experiência sensorial, convidativa e inesquecível a quem passar por ali até o próximo domingo.

 

Entre os habitués de longa data, estavam a pesquisadora Berê Bahia, entusiasta do evento e das produções realizadas na cidade. “Temos que tomar ainda as devidas precauções, por conta da Covid, mas como estou feliz de ter voltado presencialmente, porque aqui é o meu templo, o cinema é a minha religião e a tela do Cine Brasília o meu altar, com os técnicos e os artistas como santos”, declarou.

 

Já a diretora de “Meu Nome É Gal”, cinebiografia que deve estrear em 2023 sobre a recentemente falecida cantora Gal Costa, Dandara Ferreira falou sobre o reencontro com a mítica sala e o marcante Festival: “Gosto muito desse lugar, é um dos meus festivais preferidos, pela importância política, pela importância para o cinema brasileiro, e estou muito feliz por estar de volta”, destacou.

 

Na solenidade de abertura, destacou-se o discurso político, lírico e esperançoso do secretário de Cultura e Economia Criativa do DF, Bartolomeu Rodrigues, que desarmou e emocionou a plateia. Exaltando o “público maravilhoso” da mostra e o legado do professor e crítico de cinema Paulo Emílio Salles Gomes (idealizador do FBCB), o gestor alertou sobre a necessidade de construção de um Brasil mais justo e democrático. “E o que o Festival tem a ver com tudo isso? Tudo a ver! Porque aqui, ele assume seu papel na construção da identidade nacional, ele nasceu para isso. O cinema é parte indissociável dessa identidade”, destacou.

 

 

O secretário também teceu loas ao grande homenageado da 55ª edição do Festival de Brasília, o cineasta e diretor de fotografia Jorge Bodanzky, que no próximo mês de dezembro completa 80 anos. Responsável por pérolas do cinema nacional, o diretor subiu ao palco e lembrou dos tempos de estudante da segunda turma da Universidade de Brasília (UnB).

 

Agradecido pela exibição de quatros filmes de sua carreira ao longo da programação, ele finalizou seu discurso com uma declaração de amor à capital: “comemorando meus 80 anos, estou mais uma vez nesta cidade que gosto tanto e que foi e continua sendo protagonista dos momentos decisivos da minha vida”, disse.

 

 

Coube à diretora artística do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, Sara Rocha, prestar tributo a outro nome importante do cinema brasileiro, o pesquisador e conservador-chefe da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Hernani Heffner. “É uma honra receber essa homenagem aqui dentro deste Festival porque, embora eu não tenha conhecido Paulo Emílio Salles Gomes, ele mudou a minha vida”, disse o restaurador com 40 anos de estrada, lembrando do pai do FBCB.

 

A última homenagem da noite foi para o técnico de cinema com carreira consolidada no Distrito Federal, Manoel Messias Filho, que teve seu talento e profissionalismo lembrados pela Associação Brasiliense de Cinema e Vídeo (ABCV).

 

MOSTRA COMPETITIVA

Apesar das emoções da solenidade de abertura, o público que esgotou os ingressos da primeira noite do FBCB ansiava mesmo para assistir as três películas da noite, que integram a Mostra Competitiva: o longa de Adirley Queirós e Joana Pimenta, Mato Seco em Chamas (DF); e os curtas Big Bang (MG/RN), de Carlos Segundo, e Ave Maria (RJ), de Pê Moreira. Os filmes se caracterizaram por um olhar especial, sensível e original para aqueles que vivem à margem da sociedade.

 

Coprodução mineira e potiguar, o drama Big Bang trouxe como protagonista Chico, um homem que ganha a vida consertando fogões e fornos, nos quais ele facilmente entra devido a seu tamanho, e vê o destino lhe dar uma nova chance ao escapar ileso de um inusitado acidente de carro. “Big Bang é um marco na minha vida. O primeiro protagonista que faço em 15 anos de carreira e um dos poucos personagens com dramaticidade, longe dos estereótipos cômicos que são acostumados a enxergar os corpos com nanismo”, destacou o ator Giovanni Venturini. “Espero que ele exploda a cabeça de vocês, para trazer mais protagonistas com deficiência para as telas de cinema”, incentivou.

 

Drama afetivo sobre a reconstrução no seio familiar, o segundo curta da noite foi o carioca Ave Maria, que recorre a um poderoso elenco feminino para contar a história marcada por traumas, perdas e memórias dolorosas. A diretora Pê Moreira dedicou a sessão do filme à avó, recém-falecida. “O filme é muito sobre a textura da relação de nossos ancestrais dentro de nós”, explicou.

 

Um dos filmes brasilienses mais aguardados nos últimos tempos, o drama futurista Mato Seco em Chamas foi responsável por fechar a noite, com sua mistura do clássico Mad Max, protagonizado por Mel Gibson, com referências distópicas do cinema e da literatura, para falar sobre um grupo de “mulheres da quebrada” que descobrem petróleo em pleno Sol Nascente, em Ceilândia. Com bela direção de arte e fotografia, o filme da dupla Joana Pimenta e Adirley Queirós mais uma vez ressignifica o entorno do DF com um olhar autoral norteado por questões sociais.

 

 

DURANTE O DIA

Na programação de atividades formativas, foram iniciadas ao longo do dia outras atividades, como a oficina de Assistência de direção, com Marianne Macedo, e a Clínica de Projetos, com Krishna Mahon, que seguem pelos próximos dias. Também começou nesta segunda-feira (14), a Oficina de distribuição e comercialização de produtos audiovisuais, ministrada pela pesquisadora e professora Maíra Bianchini. “O que mais quero ajudar vocês a fazer é compreender esse mercado no momento atual, comercializando ideias e projetos, num desenho que leve a caminhos mais eficientes”, explicou.

 

Neste primeiro dia, a oficina falou sobre o mercado audiovisual e a obra como produto. Amanhã (15) e quarta-feira (16), a pesquisadora detalhará comercialização e modelos de negócio desse segmento da economia criativa. Além dos inscritos, que participam da oficina via plataforma Zoom, o público geral também pode acompanhar as discussões por meio da transmissão no YouTube.

 

“Com a pandemia, muitas transformações nos modos de entregar e consumir conteúdo audiovisual foram aceleradas, reconfigurando o mercado nacional e global. Existem muitas empresas e funções novas no setor e uma forte demanda por conteúdo, com múltiplas rotas possíveis de circulação para alcançar o público”, sintetizou a pós-doutora em Comunicação e Cultura Contemporânea pela Universidade Federal da Bahia, onde também integra o programa de formação audiovisual da Bahia e do Laboratório Sala de Roteiristas. “É um cenário com muitas oportunidades, mas também bastante desafiador, principalmente para os profissionais que ainda não estão inseridos nesses processos mais industriais do mercado.”

 

Vista aérea da sala de cinema do Cine Brasília lotado

Festival de Brasília de volta à casa do cinema brasileiro. Fotos: Hugo Lira

 

No período da tarde, o FBCB realizou dois encontros setoriais: o Encontro Nacional dos Festivais de Cinema e o Encontro do Conne (Conexão Audiovisual Centro-Oeste, Norte e Nordeste). Esta segunda atividade debateu a necessidade de nacionalizar as produções do audiovisual brasileiro, com narrativas e construção de uma identidade além do eixo Rio-São Paulo.

 

Diego Medeiros, advogado da Associação dos Produtores de Audiovisual do Nordeste, comentou que há demanda de construção de uma carta, a ser escrita em conjunto com as entidades ligadas do cinema nacional, para ser elencar pautas importantes para a retomada do audiovisual do Brasil. “O setor [do audiovisual] sofreu e agora é um momento importante de reflexão, de apresentarmos pautas propositivas para esse novo cenário”, afirmou. O encontro também tratou sobre os desafios da produção audiovisual frente as plataformas de transmissão de vídeo sob demanda.

 

Clique para ver mais fotos do primeiro dia.

 

SERVIÇO:

55ª edição do Festival de Brasília do Cinema Brasileiro

De 14 a 20 de setembro

Local: Cine Brasília

Exibições também no Complexo Cultural de Planaltina e de Samambaia

Confira a programação completa em: https://festcinebrasilia.com.br/programacao/

Ingressos nas bilheterias

 

Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)

E-mail: comunicacao@cultura.df.gov.br