Texto e edição: Sérgio Maggio. Fotos: Marina Gadelha (Ascom Secec)
12/8/2021
00:27:00
Em 2004, uma notícia correu Brasília como um rastro de relâmpago. Havia chegado à cidade um “calango voador”, que surgia em meio a uma roda de batuque, num samba pisado no chão de terra batida da 813 Sul. No comando, estavam as figuras de Seu Estrelo e a mãe dele, dona Laiá, que davam rumo à brincadeira de influência pernambucana. Não era exatamente um maracatu rural nem muito menos um cavalo-marinho. Diante dos olhos curiosos dos brasilienses, o que se via nascer, no Setor de Embaixadas, tinha um acento do Cerrado.
Hoje, Seu Estrelo e Fuá do Terreiro é uma das expressões culturais legítimas do Centro-Oeste, com ritmo e elementos narrativos singulares. Reconhecida nacionalmente e abraçada pela população do Distrito Federal, a brincadeira desdobrou-se em braço formativo de conhecimento com o Centro Tradicional de Invenção Cultural, espaço para festejos, ensinamento, criação e troca de saberes.
Saiba mais sobre Seu Estrelo
Reinação Candanga — Museu do Imaginário (museudoimaginario.com)
Entenda como é feito o registro
Essa vivência de 17 anos é base do Inventário O Fuá do Seu Estrelo, que foi entregue à Secretaria e Cultura e Economia Criativa (Secec), com o objetivo de registrá-lo como patrimônio imaterial do DF. Numa iniciativa própria, o grupo reuniu sete pesquisadores e catalogou toda a história num vasto dossiê de 200 páginas, repletos de fotos, documentos, análises e depoimentos. O documento é o passo fundamental para que essa expressão popular possa ser registrada no Livro de Registro de Formas de Expressão e no Livro de Registro das Celebrações.
“A história de Seu Estrelo faz parte da cultura popular que avança do Litoral para o Sertão, encontrando novos diálogos, como esse entre o cavalo-marinho e o calango voador. Seu Estrelo faz parte de Brasília, e o Estado deve olhar com zelo para essa expressão popular, que quer espaço para expressar genuinamente nossa ancestralidade”, observa o secretário de Cultura e Economia Criativa, Bartolomeu Rodrigues, que recebeu das mãos de Tico Magalhães, multi-artista e criador do mito do calango voador. No encontro, estava presente a administradora do Plano Piloto, Ilka Teodoro.
CAMINHOS DO REGISTRO
Agora, o Inventário segue um fluxo dentro da Secec para análise e avaliação. Diretora de Preservação, Daniela Zambam, aponta que será gerada uma pauta para que o Conselho de Defesa do Patrimônio Cultural (Condepac) possa validar o pedido. “Em caso positivo, o bem imaterial em questão já fica protegido durante a pesquisa necessária para o registro do bem imaterial, a pesquisa é realizada por profissional especializado, geralmente, um historiador, ou outro profissional com conhecimento específico para o tema.”. Daniela acrescenta que o tempo de validação varia porque existem outros processos em andamento.
A expectativa do grupo Seu Estrelo e Fuá do Terreiro é de que o registro de patrimônio imaterial do DF associa as tradições e brincadeiras do grupo com o território de criação, localizado na 813 Sul, uma área que tinha, a princípio, outra designação: a de ser a Embaixada do Gabão.
“Escrevemos a nossa história nesse Cerrado, a gente brinca a partir daqui. Seu Estrelo só existe porque existe o Cerrado. É desse terreiro que partimos, nesse chão desenvolvemos nosso teatro e nossas batidas”, defende Tico Magalhães, que, com orgulho, conta que a brincadeira, hoje, é estudada por alunos do DF, já que virou requisito do Programa de Avaliação Seriada (PAS), da Universidade de Brasília (UnB).
O GDF está sensível à importância de preservação do Seu Estrelo Fuá do Terreiro. Além do processo de registro de patrimônio imaterial pela Secec, a Administração do Plano Piloto, Ilka Teodoro, sugeriu a inclusão das atividades do grupo no Calendário Oficial de Festividades da capital.
“Nosso olhar é para a relevância cultural e social desses espaços e de sua proteção”, apontou.
Assessoria de Comunicação da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Ascom/Secec)
E-mail: comunicacao@cultura.df.gov.br